O vídeo divulgado pelas autoridades revela dois ângulos: a visão da rodovia, por meio de uma câmera frontal do carro autônomo; e uma visão interna do automóvel, que mostra a reação do motorista humano do Uber, responsável por supervisionar a tecnologia do veículo. A sequência tem 22 segundos e foi cortada imediatamente antes da colisão fatal. O vídeo pode ser assistido logo abaixo; ele pode ser perturbador para algumas pessoas:
— Tempe Police (@TempePolice) March 21, 2018 Após o acidente, a polícia informou que o carro do Uber poderia não ter culpa, porque “teria sido difícil evitar essa colisão em qualquer tipo de modo (autônomo ou humano) baseado em como ela saiu das sombras diretamente para a estrada”. O motorista Rafael Vasquez, de 44 anos, declarou às autoridades que “foi como um flash”. Segundo a polícia, o veículo trafegava a 38 mph (61 km/h) e não mostrou sinais de desaceleração antes da colisão. Não ficou claro se o carro estava acima do limite de velocidade, porque as informações são desencontradas: a polícia afirma que o máximo permitido na via era 35 mph (56 km/h), mas uma placa de sinalização no local mostra 45 mph (72 km/h), como nota o The Verge. O Uber diz que está cooperando com as investigações.
Um comentário não tão breve
Claro que as autoridades é que vão decidir quem teve culpa no acidente. Mas o vídeo levanta mais dúvidas, e não posso deixar de notar dois pontos. Primeiro, a câmera do carro autônomo do Uber mostra, com uma certa distância, a vítima atravessando a rodovia. Desconsiderando o aspecto legal (é proibido atravessar fora da faixa de pedestres), os carros autônomos são projetados para casos como esse. É exatamente por isso que eles têm sensores como o LIDAR: para detectar objetos e humanos à distância, em tempo real, em qualquer condição de iluminação, com a maior precisão possível, antes que o motorista o faça. Segundo, a câmera que exibe a visão interna revela que o motorista do Uber estava olhando para baixo momentos antes do acidente, em vez de monitorar o que estava acontecendo à frente do veículo. Não me surpreende, portanto, que ele tenha declarado que “foi como um flash”; o humano certamente não estava em seu maior estado de atenção. Supervisionar um carro que dirige sozinho não é o trabalho mais divertido do mundo, mas é um trabalho necessário para intervir quando a tecnologia falhar, e para desenvolvermos veículos autônomos que sejam mais seguros quando eles chegarem às mãos dos consumidores. Tudo isso se torna mais importante quando o histórico da tecnologia do Uber é considerado, já que a empresa teve que interromper seu projeto de carros autônomos mais de uma vez. Um carro autônomo da empresa já havia sofrido um acidente na mesma cidade, após ser atingido por um veículo dirigido por um humano; ninguém ficou gravemente ferido. Em San Francisco, a licença do Uber chegou a ser suspensa porque um carro furou o sinal vermelho seis vezes. Publicamente, o Uber culpou o motorista pela falha, mas uma investigação interna deixou claro que a tecnologia falhou em reconhecer os semáforos. E, até março de 2017, o software que controlava os carros autônomos do Uber era simplesmente falho. Entre as mais de 20 mil milhas percorridas por 43 veículos, foi necessário que um humano interviesse a cada 0,8 milha (1,3 km). E a média entre intervenções consideradas críticas, para evitar eventos perigosos, foi de 200 milhas (322 km). Para fins de comparação, os carros autônomos do Google exigiram uma intervenção humana a cada 5.128 milhas (8.253 km) no mesmo período. A área de comentários está aberta.